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Crise política, econômica e social ajuda a explicar vitória de Milei

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Milei ganhou atenção do eleitorado aproveitando a decepção popular com a política tradicional
Reprodução/Flipar

Milei ganhou atenção do eleitorado aproveitando a decepção popular com a política tradicional


Na noite de domingo (20), a população da Argentina foi às urnas e escolheu para ser presidente pelos próximos anos o candidato “outsider” de extrema-direita Javier Milei , com 57% dos votos no segundo turno contra o atual ministro da Economia, Sergio Massa – apesar da campanha marcada pelo discurso de risco à democracia em caso de uma vitória de Milei.

O resultado eleitoral no país vizinho vem carregada de apreensão sobre o futuro econômico de ambas as nações, e também sobre os rumos políticos do Mercosul, dado o tamanho da crise econômica da Argentina e a relação simbiótica de comércio que temos com os “hermanos”.

Para entender melhor o que levou a Argentina a escolher um candidato extremista no ano em que a redemocratização do país completou 40 anos confira a entrevista da repórter do iG, Lara Tôrres , com Paola Zuban , cientista política argentina, mestre em Comunicação Política, co-fundadora, sócia e diretora de pesquisa na consultoria Zuban Córdoba y Asociados.


Lara – Qual o principal motivo que você apontaria como determinantes para a vitória de Milei?

Paola – Não se pode encontrar um só motivo, foi a confluência de vários motivo. Por um lado, um divórcio muito profundo com os dirigentes políticos de distintas administrações.

Tanto a de Maurício Macri de 2015 a 2019, de centro-direita – como a de Alberto Fernandéz – de 2019 até agora – tiveram gestões ruins, sobretudo no aspecto econômico.

Uma crise econômica muito profunda, com inflação altíssima. Além de ter impactado fortemente o bolso dos argentinos, também impactou muito social e politicamente.

Lara – Qual é a parcela da população que foi mais decisiva para garantir a vitória de Milei?

Paola – A argentina tem uma cidadania que tem uma aspiração de classe média muito forte, que perde essa perspectiva. Um segmento da população jovem, que é parte muito significativa do eleitorado – Jovens entre 16 e 30 anos representam cerca de 38%, quase 40% dos aptos a votar.

Jovens sem perspectiva de futuro clara, sofrem por não poderem ficar independentes de seus pais mesmo tendo trabalho – porque seus empregos são muito precarizados – e encontram em Milei o tom desse protesto, dessa insatisfação, dessa raiva.

Milei soube entender isso e soube se comunicar com eles pelas redes sociais, o que a política tradicional entendeu. A política tradicional usa redes sociais para mostrar sua figura, suas ideias, sem entender que as redes sociais mudaram a forma como as pessoas se comunicam com a política – de maneira mais horizontal, como um diálogo.

Todos esses fatores: crise econômica, uma crise social e o entendimento de Milei dessa raiva e a falta de escuta da política tradicional ante a sociedade sem dúvida contribuem para que figuras como Javier Milei, que 3 anos atrás era quase desconhecido na política, que chega sem uma estrutura, sem sequer ter apoio de políticos que poderia lhe dar votos nos rincões da nação.


Lara – A diferença de votos em relação a Massa foi significativa, mas desde o primeiro turno vemos um Congresso dividido. O que se espera em termos de governabilidade?

Paola – No Congresso, Milei está em minoria. Salvo os apoios que recebeu do Juntos Por El Cambio – que não foi total – vai ter um governo difícil, apesar do resultado contundente – mais de 12% de diferença para o segundo colocado – que em qualquer outra circunstância garantiria governabilidade.

Lara – Diante do resultado, ainda há espaço narrativo no país para contestações à segurança do processo eleitoral?

Paola – Não há lugar para dúvidas com respeito a isso. O sistema eleitoral argentino há 40 anos funciona sem mácula nem sombra a respeito de sua legitimidade. De fato, o candidato oficialista, ainda antes do anúncio do resultado, já reconheceu a derrota. A diferença é legitimadora, mas vai ganhar quem articular a capacidade de negociação com o resto dos dirigentes políticos.

Lara – Me parece que há muita dúvida sobre como as coisas vão se desenrolar daqui pra frente.

Paola – Sim, há muitas dúvidas. É preciso ver como Milei formará seu gabinete. Ele não tem dirigentes de peso, vai ter que apelar pelo menos aos funcionários de segundo e terceiro escalão dos ministérios para as políticas que fará adiante.

Ele prometeu reduzir todos os ministérios a oito, e tem uma proposta muito complexa de unificar os ministérios da Saúde, Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social, para dessa maneira reduzir o Estado. Resta a dúvida de como isso vai ser levado adiante, se os servidores públicos vão manter seus empregos ou não.

Então há muita incerteza sobre as propostas [de Milei], porque até na campanha, até entre seus eleitores, eram propostas sem apoio majoritário nem dos dirigentes políticos, nem dos cidadãos. As únicas com mais acordo são a dolarização, a redução dos gastos e privilégios da política.

De resto, não há consenso sobre propostas como a liberação da venda de órgãos, fechamento do Banco Central , fim do ministério da Mulher, privatização das empresas públicas, livre importação de armas e eliminação das leis que permitem o aborto e o casamento igualitário, por exemplo. Pode parecer um paradoxo votar em alguém com a esperança de que não cumpra tudo que prometeu.

Isso torna o resultado ainda mais contundente, pois é um recado claro à política tradicional de que tudo que os cidadãos não estão de acordo com tudo que vem se fazendo.

A autocrítica da política tradicional tem que ser muito profunda, sincera e concreta para entender os motivos que fazem com que um personagem como Javier Milei chegue à presidência da nação com 57% dos votos – mais que qualquer outro presidente da democracia nos últimos 40 anos na Argentina.


Lara – E como você vê o futuro da relação com o Brasil?

Paola – Estamos vendo, na televisão argentina, uma união entre Milei, Bolsonaro e seu filho – a quem Milei convidou à sua posse – e disse que será uma honra tê-lo aqui, mas ainda não convidaram formalmente o presidente do Brasil.

Ademais, Milei vem dizendo que não pretende estabelecer relações comerciais com o Brasil, mas a Argentina é muito dependente do comércio com o Brasil. Temos uma frase aqui, que diz que quando o Brasil pega uma gripe, a Argentina tem pneumonia. A relação é muito simbiótica, de modo que estamos numa situação de incerteza.

Fonte: Internacional

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Presidente da COP28 nega suposta negociação petrolífera dos EAU

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A COP28 acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos
Reprodução/ENGIE – 09.06.2023

A COP28 acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos

O presidente da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) , que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), negou as acusações de estar buscando acordos petrolíferos durante o encontro desta quinta-feira (30).

Nesta semana, uma investigação conjunta entre a Center for Climate Reporting ( CCR) e a BBC veiculou supostos e-mails do Sultão al-Jaber , que é o presidente-executivo da empresa petrolífera nacional Adnoc e o enviado climático dos Emirados Árabes Unidos.

Segundo o presidente, “essas alegações são falsas, não são verdadeiras, são incorretas e não são precisas”. A fala foi dada em uma coletiva com repórteres, nesta quarta-feira (29), um dia antes dos encontros que ocorrerão devido a COP28 nas próximas duas semanas.

“É uma tentativa de minar o trabalho da presidência da COP28 . Deixe-me fazer uma pergunta: você acha que os Emirados Árabes Unidos ou eu precisaremos da COP ou da presidência da COP para estabelecer acordos comerciais ou relações comerciais?”, continua.

As informações vazadas mostram documentos informativos preparados pela equipe que coordena a COP28 antes das reuniões bilaterais com 27 líderes mundias. Esses preparativos são feitos como parte do processo diplomático com os governantes. Entretanto, no briefing, além dos assuntos relacionados às negociações climáticas, a equipe acrescentou nos “pontos de discussão” e “perguntas” sobre a Adnoc e a Masdar — empresa de energia sustentável, também presidida por Al Jaber.

A BBC informou que o briefing inclui nos pontos de discussão 15 países que a Adnoc pretende trabalhar na extração de petróleo e gás. Alguns exemplos são a China, Moçambique, Canadá e Austrália, dizendo que a empresa está “disposta a avaliar conjuntamente as oportunidades internacionais de GNL [gás natural liquefeito]”. Outro exemplo é a Colômbia, onde a Adnoc diz “estar pronta” para ajudar no desenvolvimento das reservas de petróleo e gás.

Na coletiva, al-Jaber pediu: “Por favor, pela primeira vez, respeite quem somos, respeite o que alcançamos ao longo dos anos e respeite o facto de termos sido claros, abertos, limpos, honestos e transparentes sobre como queremos conduzir este processo COP”.

Fonte: Internacional

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Hamas afirma que bombardeio de Israel matou bebê e familiares reféns

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Segundo o Hamas, o bebê de 10 meses, o seu irmão e sua mãe foram mortos no bombardeio feito pelas Forças de Israel
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Segundo o Hamas, o bebê de 10 meses, o seu irmão e sua mãe foram mortos no bombardeio feito pelas Forças de Israel

As Forças de Defesa de Israel (FDI) se pronunciaram após a alegação feita pelo grupo extremista Hamas nesta quarta-feira (29), dizendo estar investigando se a afirmação é verdadeira. Segundo o grupo armado, um bombardeio realizado por Israel acarretou na morte do refém mais jovem israelense, Kfir Bibas, de 10 meses. Além do bebê, o seu irmão de quatro anos, Ariel, e sua mãe, Shiri, também teriam morrido durante o ataque.

A alegação feito pelo Hamas, entretanto, não possui quaisquer provas. No comunicado emitido pela FDI diz que estão “avaliando a precisão das informações”.

A FDI ainda informou que conversou com a família das supostas vítimas, e que estão com eles “neste momento difícil”.

Segundo o comunicado da FDI, “o Hamas é totalmente responsável pela segurança de todos os reféns na Faixa de Gaza. O Hamas deve ser responsabilizado. As ações do Hamas continuam a colocar em perigo os reféns , que incluem nove crianças. O Hamas deve libertar imediatamente os reféns”.

Ao Canal 12 de Israel, o primo de Shiri, Jimmy Miller, cedeu uma entrevista dizendo que a FDI informou a família sobre a alegação do Hamas. “O Hamas os sequestrou vivos, o Hamas é o responsável pela saúde deles e o Hamas precisa devolvê-los vivos”, disse o familiar.

“Não nos importamos se eles os transferiram para outra pessoa ou para outra entidade, eles são [exclusivamente] responsáveis ​​por trazê-los de volta para nós vivos e bem”, continua Miller.

A família de Shiri confirmou que receberam “soube das últimas reivindicações do Hamas”, e que elas foram veiculadas em um comunicado do Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos.

“Estamos aguardando que a informação seja confirmada e, esperançosamente, refutada pelas autoridades militares. Agradecemos ao povo de Israel pelo seu caloroso apoio, mas solicitamos gentilmente privacidade durante este momento difícil”, afirmaram.

Shiri e os dois filhos estavam desaparecidos. Entretanto, no início da semana, o porta-voz principal das FDI, contra-almirante Daniel Hagari, havia afirmado que acreditava que eles não estavam com o Hamas.

Há quase uma semana, não há novos bombardeios em Gaza por conta do acordo de cessar-fogo, que começou a valer na última sexta-feira (24).

Após a alegação do Hamas, acredita-se que Shiri, o marido Yarden e os dois filhos foram sequestrados no kibutz Nir Oz, no dia 7 de outubro. Na ocasião, o Hamas assassinou cerca de um quarto dos moradores da comunidade, disparando contra as casa das pessoas.

Fonte: Internacional

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