Segundo o ministro, seu celular foi alvo de um ataque em 4 de junho, e ele entregou o aparelho para a Polícia Federal para que o caso fosse investigado. Moro disse que não há evidência de que o conteúdo do celular foi acessado.
Conversas entre juízes e as partes do processo
Moro explicou que, na tradição jurídica brasileira, são normais conversas entre juízes, procuradores e advogados no decorrer do processo. O ministro citou artigos publicados na imprensa que apontaram esse tipo de diálogos como “normais”.
“Vamos esclarecer para quem não conhece, mas aqui estão vários ex-juízes, ex-policiais e ex- advogados. Vamos esclarecer. Aqui na tradição jurídica brasileira não é incomum que juiz converse com advogado, que juiz converse com promotor. Isso acontece a todo momento”, disse Moro.
“E, no caso do juiz criminal, é muito comum, já que o juiz responsável tanto pela fase de investigação como pela fase do processo, receba policiais e procuradores e converse sobre diligências que vão ser requeridas, diligências que vão ser cumpridas. Isso é absolutamente normal”, concluiu.
Ele citou dois exemplos: o procurador que se dirige a um juiz para dizer que vai pedir prisão preventiva de um suspeito; e um advogado que pede a revogação da prisão preventiva do cliente.
A sessão na CCJ começou com uma fala inicial de Moro, de cerca de 20 minutos. Depois, ele respondeu a perguntas feitas por senadores. Cerca de 40 parlamentares se inscreveram para fazer questionamentos ao ministro.
Senadores da oposição fizeram críticas à atuação de Moro. Weverton (PDT-MA) questionou o ministro se, diante das mensagens publicadas pelo The Intercept, não seria o caso de ele deixar o ministério.
“O senhor é um símbolo da Justiça. O senhor foi um homem corajoso, que prendeu homens poderosos. A OAB agora está propondo seu afastamento do Ministério da Justiça, para preservar a sua imagem de super homem, de super herói. O senhor não deveria se afastar?”, perguntou o senador.
Moro repetiu que não tem como provar a autenticidade das mensagens e que a conversa atribuída a ele e procuradores ocorreu sem ilicitudes.
“Não tem nada de revelação, de parcialidade ou de conteúdo impróprio. O senhor pode conversar com qualquer pessoa que trabalha nos fóruns de Justiça, que vai verificar que isso é absolutamente corriqueiro, normal. Especialmente no contexto de uma grande investigação”, respondeu o ministro.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) quis saber se Moro considerava que o conteúdo das mensagens mostrava que os julgamentos da Lava Jato ocorreram de forma irregular.
“Os fins justificam os meios? Lembro aqui também a teoria do fruto da árvore envenenada, outra prova ilícita por derivação, que é uma proibição no Código de Processo Penal. Está no artigo 157, parágrafo 1º, que diz: ‘São também inadmissíveis as provas derivados das ilícitas’. Se a árvore está envenenada, os frutos estão envenenados”, argumento Contarato.
Na resposta, Moro enfatizou que as conversas entre juízes, procuradores e advogados são normais.
“O senhor, que é da prática jurídica, que já atuou nessa área, sabe que são normais conversas entre juízes, normais conversas entre procuradores, normais conversas entre policiais e entre advogados. A questão do aplicativo, foi apenas ali uma troca de mensagens mais rápidas, se é que essas mensagens são de todo autênticas”, afirmou o ministro.
Houve também na sessão senadores que elogiaram o trabalho de Moro e apontaram ilegalidade na obtenção e divulgação das mensagens.
“Quem conhece o nosso sistema jurídico sabe que conversas entre procuradores, juízes e advogados acontecem. É comum a expressão embargos auriculares. Eu queria entender que crime haveria nessas trocas de mensagens até aqui divulgadas? O senhor tem preocupação que as divulgações de supostas conversas possam manchar ou impedir investigações da Lava Jato no futuro?”, disse o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
Para a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), o modelo processual brasileiro permite ao juiz atuar como juiz de instrução.
“Nós adotamos um modelo processual misto, que permite ao juiz diligências, ser ativo nas investigações. O juiz, em nosso sistema. pode ordenar que uma perícia seja realizada, uma testemunha seja ouvida, que alguém seja preso preventivamente, etc. o juiz é praticamente um personagem, ora, é praticamente uma autorização legal para agir como juiz de instrução, certo?”, disse a senadora.