O Ministério Público do Estado (MP) acusa o ex-comendador João Arcanjo Ribeiro de utilizar policiais e ex-policiais para aplicar atos de violência contra opositores da Colibri, organização rearticulada para perpetrar o jogo do bicho em Mato Grosso. A acusação consta na denúncia apresentada pelo MP à Justiça, cujo conteúdo é assinado pelos promotores Alessandra Gonçalves da Silva Godoi, Carlos Roberto Zarour César e Jaime Romaquelli.
No documento, os promotores elencaram que ao ex-comendador já foram atribuídas mortes praticadas por policiais a seu mando. “O uso de policiais e ex-policiais armados para exercer atos de violência contra quem se opõe aos projetos da organização criminosa Colibri é um antecedente vivo na vida de João Arcanjo. Alguns dos policiais, como Célio Alves, até hoje cumpre elevadas penas em regime fechado, em virtude de diversos homicídios cometidos a mando de João Arcanjo”, diz trecho.
No atual momento da organização, Arcanjo tinha Noroel Braz da Costa Filho como “braço armado” da organização. Ele é ex policial civil e considerado da confiança do ex-comendador. “Por ser ex-policial civil, atribuições de segurança das operações, incumbido do exercício de atos de violência ou ameaça contra quem representasse obstáculo aos trabalhos do grupo, inclusive visando evitar inadimplência por parte de cambistas e arrecadadores”, diz trecho da denúncia.
Para elencar atos de violência do grupo, a denúncia resgata um Boletim de Ocorrências (B.O.) registrado por Alberto Jorge Toniasso, onde relatou ter sido espancado por agentes de Arcanjo no estacionamento Parking, onde o ex-comendador cumpre suas medidas cautelares. Na oportunidade, ele teria levado tapas na face e socos na região do fígado, além de ter sua máquina de apostas quebrada e ter sido conduzido a quatro locais diferentes para que os homens de Arcanjo, supostamente, recolhesse os aparelhos. Toniasso prestava serviços à concorrência.
A denúncia também alega que Fábio Pilz de Oliveira, que também prestava serviços à organização concorrente, foi sequestrado em julho de 2018, em Juara (696 km de Cuiabá), por homens ligados a Arcanjo. Em ambos os casos, as supostas vítimas teriam sido abordadas por homens de Arcanjo, que se identificavam como policiais.
“Além disso, no depoimento prestado por Fábio Pilz de Oliveira, que foi vítima de sequestro na cidade de Juara/MT por dois agentes da organização Colibri, revela que os dois se identificaram como policiais “e que os dois indivíduos estavam portando armas de fogo tipo revólver”.
A folha de antecedentes de Sebastião, apelidado por Cocô, demonstra que, no momento em que fora preso em virtude do mandado expedido neste feito, estava em poder de uma arma de fogo”, diz a denúncia.
A Operação Mantus foi deflagrada no dia 29 de maio pelo MP, por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Contra o Crime Organizado), e desbaratou dois esquemas de Jogo do Bicho que, segundo as investigações, comandavam o território mato-grossense. Uma, a Colibri, seria comandada por João Arcanjo Ribeiro e seu genro, o Giovanni Zem Rodrigues. A segunda, Ello/FMC, por sua vez, seria comandada por Frederico Müller Coutinho.
As investigações apontam que as duas organizações movimentaram, só no último ano, o montante de R$ 20 milhões.