Por onde passa – de Londres à Roma, de Milão à Berlim – um brasileiro causa comoção por sua simpatia, seu jeito fashion e, principalmente, sua aparência física. Rodrigo Alves ficou conhecido internacionalmente como Ken Humano após exibir as mais de 70 cirurgias plásticas que realizou ao longo da vida e se transformar em um dos principais ícones da TV europeia.
No último fim de semana, o apresentador desembarcou no Brasil para uma série de entrevistas e decidiu passar pela redação de QUEM Acontece para contar a sua história, explicar os motivos que o levaram a se submeter a tantas cirurgias plásticas e revelar como se tornou um fenômeno nas televisões da Europa.
Rodrigo é brasileiro, filho de mãe paulistana e pai britânico, e nascido em São Paulo em meados de julho de 1983. À QUEM, revela que sua preocupação com a aparência começou cedo, ainda na infância.
“Eu era muito infeliz com a minha aparência. Eu tinha um nariz largo, quando eu era pequeno, as crianças falavam que eu tinha ‘nariz de batatinha’. Sou uma pessoa especial. Nasci diferente, cresci diferente, sou diferente. Tive que aprender a viver e a lidar com as minhas diferenças”, diz.
As insatisfações com o visual pioraram com a chegada da adolescência, quando ele desenvolveu uma disfunção hormonal. “Na adolescência eu tive uma Ginecomastia muito avançada [condição resultante de hipertrofia das glândulas mamárias, que causa o crescimento de mamas no homem]. Aquilo, na escola, chamava muito a atenção, especialmente dos meninos. Eles me pegavam, me batiam. Me agrediam porque eu era diferente. Eu também sempre fui muito delicado, diferente. Eu não jogava futebol com os meninos, por exemplo, eu brincava de Barbie com as meninas. Não sabia o porquê. Não sabia o motivo de ter essa tendência, o porquê de ter nascido assim. Eu era inocente, não sabia que aquilo tudo tinha a ver com a minha sexualidade. Era o meu instinto, apenas”, explica.
Rodrigo revela que não teve amigos em sua adolescência, e considera que sua insegurança era a grande barreira para criar relacionamentos.
“Eu ia para a escola, usava roupas pretas de moletom. Colocava o boné e sentava no fundo da classe. Eu tinha vergonha de me expor, porque tinha aquele nariz grande, as pessoas chamavam de ‘batatinha’. Eu também era gordinho. Era desengonçado, praticamente o ‘patinho feio’ da turma. Eu não tinha amigos, ninguém queria ser meu amigo, porque eu era muito tímido. Não tinha nem a ver com a minha aparência, era mais com meu psicológico. Eu me excluía”. Um dia, no entanto, ele decidiu que sua vida iria mudar. “Não queria mais ser o patinho feio”, explica.
Bullying na adolescência e a necessidade de ser diferente
Na adolescência, Rodrigo se manteve introvertido e evitava contato com as pessoas, especialmente por ter sofrido bullying na infância. “Na minha mente, meu corpo e minha imagem não combinavam com aquilo que eu olhava no espelho. Eu me olhava e falava: ‘Este não sou eu’. Eu não era feliz com a imagem que via”.
Quando atingiu idade suficiente para realizar suas primeiras cirurgias plásticas, decidiu estudar e entender como poderia mudar a sua vida. “Na época em que morava em São Paulo, acabei encontrando forças nos meus estudos. Eu sabia que não tinha nada que poderia fazer em relação à minha aparência. Eu sabia que cirurgia plástica existia, mas eu fiz a retirada das mamas. Porém, para fazer a rinoplastia, você precisa ter, ao menos, 19 ou 20 anos, para que os ossos já esteja formados completamente. Então, o que eu podia fazer naquela época, era estudar”
Aos 18 anos, já com a primeira cirurgia realizada e com uma cidadania britânica em mãos, Rodrigo embarcou rumo à Londres, para começar uma nova vida. Na capital do Reino Unido, ele estudou mais de seis idiomas e se formou em Relações Públicas. Ainda que fosse uma pessoa com muito talento para a comunicação, ele continuava introvertido, porque as questões da aparência ainda o incomodavam muito. “Eu estudei em uma escola muito popular. E eu queria ser uma pessoa ‘cool’. Igual àquelas pessoas que estudavam comigo”, explica.
Nos primeiros períodos da faculdade, Rodrigo decidiu investir em seus estudos. “Sempre gostei de idiomas. Eu sempre estudei, acabei aprendendo alemão, francês. Hoje em dia, falo seis idiomas fluentemente, o que me abriu portas para o que faço atualmente. Então, a forma que eu encontrei para lidar com aquele bullying físico era estudar. Porque era a única coisa que eu tinha acesso naquele tempo. Eu queria ser uma pessoa melhor. Como eu não podia melhorar fisicamente e esteticamente, quis ser melhor intelectualmente. Então, fiz o máximo”.
O primeiro trabalho de Rodrigo foi em uma companhia aérea britânica, na qual atuou como comissário de bordo. Como trabalhava meio período, porque estudava durante a semana, ele viajava sempre às sextas-feiras e retornava às segundas, religiosamente, para manter suas aulas em dia. Como percebeu que as primeiras mudanças de aparência começaram a render bons frutos em seus relacionamentos, ele decidiu dividir seu tempo nas férias e investir em mais cirurgias plásticas.
“Eu tinha férias da faculdade duas vezes ao ano. Era o mesmo período em que eu pegava férias no trabalho. Então, eu ia e fazia um procedimento estético. No primeiro ano da faculdade, fiz uma rinoplastia e uma lipoaspiração”, conta.
Surgimento do personagem Ken Humano
Ao longo do período na faculdade, Rodrigo passou a investir nas intervenções estéticas e, com isso, ficou mais confiante. “Fiquei mais magro, a fisionomia começou a ficar melhor. Coloquei botox, meu rosto começou a mudar. Eu comecei a me amar. Comecei a ser mais confiante e passei a ser convidado para as festas que tinham na faculdade. Eu vivi, no segundo ano de faculdade, aquilo que a gente normalmente vive na adolescência”, explica.
Até hoje, Rodrigo contabiliza 72 cirurgias plásticas. O apelido Ken Humano surgiu ocasionalmente quando começou a ficar popular nas festas da universidade e nas boates londrinas e norte-americanas.
“Não foi algo que eu quis. As pessoas começaram a me chamar assim. Tipo, ‘é o Ken, deixa ele entrar na boate com as meninas’. Eu comprava champanhe e gastava uma fortuna na boate, naquele tempo. Como eu era comissário de bordo, minhas rotas favoritas eram Los Angeles e Las Vegas. Quando chegava lá, as pessoas já me conheciam. Eu levava aquelas comissárias lindas para a boate, e foi aí que comecei a ficar popular. Acabei ficando muito conhecido como aquele cara excêntrico, com estética diferente, mas que se vestia bem e muito descolado”, conta.
Apesar de ter aceitado o apelido, ele prefere ser chamado de Rodrigo no dia a dia, e não de Ken. “É um apelido carinhoso, na verdade. E eu agradeço, afinal a Barbie e o Ken representam a perfeição do homem e da mulher. Mas eu tenho várias imperfeições. E eu também não gosto de as pessoas me verem como se eu fosse um boneco, porque elas pensam que eu fiz cirurgias plásticas por ser uma pessoa fútil. E eu não sou fútil. Eu tenho outros motivos pelos quais quis me reinventar”.
Intervenções Estéticas
Apesar de contabilizar tantas intervenções estéticas, Rodrigo explica que boa parte delas foi feita por necessidade. “Tive complicações em pelo menos metade de minhas cirurgias. Ou seja, virou um dominó. Eu fiz muitos procedimentos porque precisei, não porque quis. Por exemplo: Tive um silicone no queixo que começou a vazar. Em janeiro, o refiz quatro vezes. Agora, tenho um osso artificial no lugar. Eu não me arrependo de nenhum dos meus procedimentos, por mais que tenha tido várias complicações, mas se eu pudesse voltar ao passado, teria feito tudo de maneira diferente. Com outros médicos. Teria feito a metade deles, não todos”.
Rodrigo queria ser diferente. “Hoje sou fruto da minha imaginação. Sou tudo o que eu sempre quis ser, na vida. Tive um sonho e realizei, ainda estou realizando a cada dia. Meu sonho não era ser um boneco humano, mas devido à maneira como me visto, à minha estética, comecei a ser chamado assim. Sei que tenho um rosto diferente, sei que não sou igual às outras pessoas. Se me incomoda? Aprendi a viver com isso. Mas eu gostaria que as pessoas me conhecessem realmente como Rodrigo Alves. Aquele personagem de televisão. Eu já fiz mais de duzentos programas de televisão em mais de vinte e dois países, e não trabalho como o Boneco Ken. Eu não sou animador de festas. Eu sei falar, sou uma pessoa comunicativa, sou comunicador. Eu falo português, falo alemão, francês. Eu não falo só de cirurgias plásticas, eu falo de tudo. De estética, moda, viagem, comida”.
Carreira na TV
Com a popularidade aumentando, Rodrigo começou a fazer sucesso fora das baladas. Apesar de ter ficado inicialmente conhecido por ter feito muitas cirurgias estéticas, ele considera que seu conteúdo foi forte o suficiente para deixá-lo no estrelato por tanto tempo. “Não atribuo meu sucesso às cirurgias plásticas, mas à minha personalidade e à mensagem que passo para as pessoas, porque sempre sou muito sincero. Elas acreditam em mim quando me assistem, quando me escutam”.
Rodrigo conta que, por conta da quantidade de intervenções estéticas, foi convidado a participar do famoso programa ITV This Morning, que é muito popular na Inglaterra. A partir daí, sua fama começou a crescer exponencialmente. “Tudo que sai nesse programa normalmente é replicado nos principais jornais do país, como o Daily Mail, Mirror, The Sun. E tudo o que sai nesses jornais, vira notícia nos veículos norte-americanos e australianos. No fim, tudo o que sai nos Estados Unidos e na Inglaterra acaba virando notícia mundial. Minha entrevista foi muito boa e com muita audiência. Falei sobre cirurgias plásticas, na época eu já tinha feito de 25 a 30 procedimentos estéticos. Eu tinha 28 anos de idade, na época”.
A vida do apresentador mudou a partir destas entrevistas e, atualmente, ele consegue atuar dentro da comunicação, como sempre quis. Hoje, ele atua em dois programas, um sobre lifestyle para uma emissora alemã, e outro sobre notícias e celebridades, que é transmitido na Itália.
Com o programa dedicado ao lifestyle, ele viaja o mundo e busca o diferente e as excentricidades de cada país. “Já tomei leite de barata e comi carne de cobra”, revela, bem-humorado. Apesar de sempre aparecer em hotéis de luxo e restaurantes renomados em suas redes sociais, Rodrigo garante que tudo faz parte de seu trabalho.
“Eu tenho uma vida simples. Na verdade, vou nos lugares luxuosos porque me convidam. Graças a Deus tenho um estilo de vida bom. Viajo bastante por conta do trabalho e realmente sempre fico em hotéis chiques, frequento restaurantes maravilhosos. Mas geralmente isso é pago por uma emissora de televisão. Aquilo, acaba saindo depois na imprensa, por isso me chamam. Mas férias, mesmo, tenho apenas uma vez por ano, é quando fico tranquilo. Estou sendo muito sincero com os leitores em abrir isso. Mas eu, de fato, ganho muito dinheiro com os programas de televisão que faço, especialmente na Itália”, conta.
Com uma rotina agitada, de aeroporto em aeroporto, Rodrigo valoriza os momentos de tranquilidade em sua casa. “Adoro ficar sem maquiagem, de pijama, sem responder ao telefone. É difícil ter esses dias para mim. Por exemplo, agora já sei meu cronograma até Agosto, meus dias em casa estão contados. Só vou parar em casa para trocar roupas, fazer malas e voltar para o aeroporto”, desabafa.
Excesso de plásticas e discriminação
Apesar de aceitar sua nova aparência e garantir que, hoje em dia, finalmente se aceita, Rodrigo admite que fez muitas intervenções. “Eu sei que exagerei. Exagerei porque eu não tive opção, por causa das complicações. Eu fazia a cirurgia e não gostava. E fazia de novo. O meu nariz teve muitos problemas, ainda respiro muito pela boca”.
Novas intervenções, inclusive, acontecerão e ele já as prevê. “Provavelmente no ano que vem farei o nariz de novo, porque ele não está perfeito. Não precisa ser perfeito, mas eu queria respirar melhor. Hoje em dia não sou mais aficionado pela aparência como era no passado. Eu só quero, hoje em dia, emagrecer, viver uma vida saudável e ser feliz, além de aprender a viver com as minhas imperfeições”.
Questionado se ele tem receio de entrar em uma sala de cirurgias, ele confessa que sim. “Já fiz tantas cirurgias, já sei como é. Mas ainda assim tenho receio, porque temo ter nova complicação, de não ter um bom resultado estético. Estes são meus medos, mas é um risco que eu corro e que qualquer um corre quando faz uma cirurgia plástica”.
Fazendo um balanço de seu passado e seu presente, Rodrigo considera que continua o mesmo por dentro, mas as mudanças de aparência o fizeram florescer. “Meu coração é o mesmo. Meus modos, meu tom de voz, minha forma de ser. Mas de resto, renasci”.
“Assim como uma borboleta. Eu nunca imaginei que um dia seria tão famoso, que as pessoas iam me amar, respeitar minha história de vida. Eu não sou famoso só por causa da cirurgia. Eu sou conhecido, sim, por elas, mas não atribuo o sucesso só por causa disso. E eu nem quero isso, porque eu estaria passando uma mensagem errada para as pessoas, que para se chegar ao sucesso é só se intoxicar de cirurgias plásticas. Isso seria errado”.
Aos que o criticam por conta de seu excesso de cirurgias plásticas, Rodrigo manda um recado. “Não tem nada de ruim para falar para mim como pessoa. Eu sou justo, honesto, feliz e nunca fiz mal a ninguém. As pessoas que me criticam, falam mal de mim e me odeiam, o fazem sem motivo algum. Cada um tem o livre arbítrio e pode ter uma opinião formada em relação às cirurgias plásticas, mas não a mim, porque não me conhecem. É apenas ignorância”, conclu