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Sergio Simon: Uma carta para a rainha Rania da Jordânia

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Por Sergio Simon*
O médico oncologista Sergio Simon
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O médico oncologista Sergio Simon

No último sábado, a Rainha Rania da Jordânia escreveu um artigo intitulado “Gaza: Uma Distopia Moderna” no jornal brasileiro O Estado de S. Paulo. Um dos principais oncologistas do Brasil, o Dr. Sergio Simon, baseado em São Paulo, respondeu com uma Carta para a Rainha Rania da Jordânia:

Sua Majestade, Rainha Rania al-Abdullah da Jordânia

Amã – Jordânia

Eu moro no Brasil, um país distante da bela Jordânia, que nunca visitei. No entanto, como médico judeu com profundo interesse nos eventos trágicos do Oriente Médio, fiquei feliz ao ler sua coluna hoje no O Estado de São Paulo, um dos principais jornais do Brasil.

Em seu tocante artigo, você fala sobre a distopia, um lugar imaginário onde as pessoas vivem na maior desgraça e sofrimento. E você menciona que Gaza não é apenas uma distopia, mas uma realidade nos dias de hoje – talvez o lugar mais trágico na Terra no momento. Concordo plenamente, Vossa Majestade. Qualquer pessoa com o mínimo de razoabilidade foi profundamente tocada pelas cenas de sofrimento humano vistas na televisão nos últimos dias. E, como Vossa Majestade destaca corretamente, 1,8 milhão de pessoas vivem sob cerco, cercadas por inimigos, vendo suas casas e pertences pessoais destruídos nessa batalha sem sentido. Segundo Vossa Majestade, cada habitante de Gaza deseja apenas o que todos desejamos: uma vida normal, nada mais e nada menos! Você pede às pessoas que ajam e reajam, que ajudem a salvar o povo de Gaza, que doem para a UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina).

Vossa Majestade pode não se lembrar dos seguintes fatos, pois aconteceram alguns dias após o seu nascimento, em agosto de 1970, em Kuwait. Naquela época, o Rei Hussein da Jordânia (que Allah abençoe sua memória), que se tornaria seu sogro, iniciou uma das batalhas mais sangrentas contra o povo palestino, que ficaria conhecida como “Setembro Negro”. Ele estava decidido a não permitir que a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), sob a liderança de Yasser Arafat, assumisse o governo da Jordânia ou mesmo o governo da Margem Ocidental. E ele provavelmente estava certo, pois isso teria ameaçado a autonomia do Reino Hachemita. Seu sogro, com a leal ajuda das Forças Armadas Jordanianas, matou milhares de refugiados palestinos à queima-roupa. Não foi uma guerra longa – terminou em julho de 1971, poucos dias antes de sua primeira festa de aniversário em Kuwait. Mas, segundo Yasser Arafat, cerca de 20.000 palestinos foram mortos durante o Setembro Negro. Outras organizações palestinas, como a Frente Popular para a Libertação da Palestina, de George Habash, e a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, de Nayef Hawatmeh, questionaram abertamente a legitimidade da monarquia de seu sogro e estavam igualmente envolvidas na luta.

E você perguntará – com razão – “Como havia refugiados palestinos na Jordânia em 1970, já que haviam deixado Israel em 1948? Vinte e dois anos depois, eles ainda eram ‘refugiados’?”. Sim, Vossa Majestade Rainha Rania, o Rei Hussein bin Talal, seu sogro de abençoada memória sempre manteve os palestinos abrigados em campos de concentração, assim como todos os outros países árabes da época. Em vez de absorvê-los na sociedade jordaniana, eles eram mantidos em condições desumanas em campos de concentração para pressionar Israel e as Nações Unidas. Ninguém queria resolver o “problema” palestino. Ah, é claro que também havia os refugiados judeus dos países árabes! Centenas de milhares de judeus tiveram que fugir de Egito, Líbano, Síria, Iraque, Argélia, Tunísia, Iêmen e Marrocos sem nada, deixando para trás todos os seus pertences e propriedades… Mas Israel não os colocou em campos. Eles foram prontamente absorvidos na sociedade israelense e hoje, uma ou duas gerações depois, são advogados, médicos, professores em Israel. Não há mais um “problema de refugiados judeus”. Isso poderia ter acontecido com os pobres palestinos se o Rei Hussein na Jordânia, Gamal Abdel Nasser no Egito e Shukri al-Kwatli e Hafez al-Assad na Síria tivessem feito o mesmo.

Então, Vossa Majestade, achei que deveria saber que seu Reino da Jordânia desempenhou um papel importante na criação da situação em Gaza, onde os terroristas do Hamas lançam milhares de foguetes sobre os civis israelenses e depois usam crianças e mulheres palestinas como escudos – um crime de guerra monstruoso. Até mesmo as escolas da UNRWA, para as quais Vossa Majestade está arrecadando fundos, foram usadas como esconderijos para bombas e foguetes (Ban Ki-moon, o Secretário-Geral da ONU, disse isso. E eu acredito nele).

Mas Vossa Majestade, como Rainha da Jordânia, tem a chance de contribuir significativamente para resolver essa situação. Por favor, diga ao seu marido, o Rei Abdullah II da Jordânia (Que Allah o abençoe), para convencer os líderes árabes a resolver o problema palestino o mais rápido possível. Eles deveriam absorver os palestinos em suas sociedades; eles deveriam reconhecer Israel como um estado e fazer paz com ele (locais religiosos? Israel daria a todos acesso livre e imediato, tenho certeza; Compensação por propriedades perdidas? Isso pode ser resolvido facilmente, também, tenho certeza); eles deveriam parar de educar seus filhos a o diar os judeus; eles deveriam aceitar a igualdade para mulheres e todas as minorias e religiões. Fácil! Tão simples assim!

Então, esta noite, Rainha Rania, quando você perguntar ao espelho mágico “Espelho, espelho meu, existe alguém mais justa do que eu?”, o espelho responderá: “Você, minha Rainha, é a mais justa de todas. Justa não apenas pela beleza que Allah derramou sobre você, mas também por ser justa com todos”.

Que Allah conceda muita saúde e felicidade a Vossa Majestade!

Sergio Simon

São Paulo, Brasil

*Sergio Simon é doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo (2003). É autor de várias publicações nacionais e internacionais, além de atuar como oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, onde dirige o Programa de Residência Médica em Cancerologia Clínica e o Programa de Pós-Graduação em Oncologia Clínica. É diretor do Centro Paulista de Oncologia (CPO) e diretor-presidente do Grupo Brasileiro de Estudos Clínicos em Câncer de Mama (GBECAM).

Fonte: Internacional

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Guiana confirma morte de cinco soldados em queda de helicóptero

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O helicóptero tinha sete soldados da Guiana e caiu perto da fronteira com a Venezuela
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O helicóptero tinha sete soldados da Guiana e caiu perto da fronteira com a Venezuela

Nesta sexta-feira (08), o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali , confirmou a morte de cinco soldados que estavam a bordo de um helicóptero, que caiu perto da Venezuela na última quarta-feira (06). Os agentes eram das Forças de Defesa da Guiana (GDF), e estavam em uma aeronave do Exército do país. Além das vítimas fatais, outros dois soldados estavam na no helicóptero.

O presidente guianês utilizou o Facebook para dar a notícia. Ele lamentou a morte dos agentes, e fez um apelo para manter as preces pelas vítimas do acidente, além de orações para seus familiares, para a GDF e para o país, que passa por um momento de impasses com a Venezuela sobre as suas fronteiras.

“Meu coração sofre e se afoga de tristeza diante da trágica perda de alguns de nossos melhores homens uniformizados. A magnitude desta perda para as famílias, nosso país, o GDF e para mim pessoalmente é incomensurável. Meus amigos e camaradas de confiança, meus irmãos, como isso pode ser?”, escreveu Irfaan Ali.

Além do líder guianês, o assessor de Segurança Nacional do presidente, Capitão Gerry Gouveia, comentou o caso nesta sexta-feira. Segundo ele, os dois sobreviventes estão estáveis, e devem ser resgatados ainda nesta sexta-feira.

“Hoje nos aventuramos novamente nesta missão de resgate e recuperação. Estamos focados e decididos. Nossos bravos e altamente treinados oficiais das forças especiais estão na montanha do local, cuidando dos dois sobreviventes e preparando a área de extração”, disse o assessor em uma publicação no Facebook.

O helicóptero estava sendo pilotado por um tenente-coronel de um batalhão de infantaria. O objetivo da missão era conseguir visitar as tropas do Exército na fronteira oeste da Guiana. Entretanto, ele caiu quando passava por zonas montanhosas na última quarta-feira. Por conta das condições climáticas, a busca e o regate acabaram sendo dificultados.

A queda da aeronave foi investigada pelas GDF. De acordo com o chefe de pessoal das Forças, Omar Khan, foram descartadas qualquer indicação de um possível abate, ou que outra nave estivesse ligada a queda.

Fonte: Internacional

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COP: texto cita mundo “predominantemente livre” do combustível fóssil

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Os quase 200 países presentes da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, fecharam um 2º rascunho para o documento final do encontro com quatro opções de texto sobre o futuro dos combustíveis fósseis. 

Uma das principais bandeiras de organizações ambientalistas nesta COP tem sido a inclusão, no documento final, de previsão da eliminação dos combustíveis fósseis, que são o principal vetor do aquecimento do planeta. No primeiro rascunho, estavam previstas duas opções de texto sobre o tema. No novo documento divulgado nesta sexta-feira (8), os países apresentam quatro opções de texto. São elas: 

– 1: Eliminação progressiva dos combustíveis fósseis de acordo com a melhor ciência disponível; 

– 2: Eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, em linha com a melhor ciência disponível, com a meta de 1,5ºC do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] e os princípios e disposições do Acordo de Paris; 

– 3: Eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, reconhecendo a necessidade de um pico no seu consumo nesta década e sublinhando a importância de que o sector da energia seja predominantemente livre de combustíveis fósseis muito antes de 2050; 

– 4: Eliminar progressivamente os combustíveis fósseis e reduzir rapidamente a sua utilização, de modo a alcançar emissões líquidas zero de CO2 nos sistemas energéticos até meados do século ou por volta dessa data; 

Há ainda outra opção em que aparece “sem texto”, indicando que há países que disconcordam que o tema seja abordado no documento. Em outro dispositivo, o rascunho inclui como opção de texto a “eliminação progressiva dos subsídios aos combustíveis fósseis que não abordam a pobreza energética ou a transição justa”. 

O rascunho divulgado hoje ainda promete triplicar, até 2030, a capacidade de energia renovável à nível global, “garantindo que o aumento da capacidade de energia renovável seja estrategicamente implementado para substituir a energia baseada em combustíveis fósseis”.   

Mudanças do documento 

A diretora de Políticas Públicas e Relações Governamentais da The Nature Conservancy (TNC) Brasil, Karen Oliveira, destacou que o termo “eliminação” (phase-out, em inglês) traz mais divergência nas negociações do que convergências.  

“A opção que os negociadores trouxeram para pauta foi uma linguagem mais suavizada, mas ainda dando uma mensagem clara de redução e eliminação [dos combustíveis fósseis]”, ponderou. Além disso, Karen lembrou que a discussão ainda está muito aberta e que ainda há muita indecisão. 

 “O que esperamos, nós da sociedade civil, é que seja assumido um compromisso robusto com a eliminação dos combustíveis fósseis dentro de uma linguagem que seja aceita por todos. Mas, mais do que a linguagem, precisamos é de um compromisso efetivo”, concluiu.  

Já para a presidente do Instituto Talanoa, organização que atua com políticas climáticas, Natalie Unterstell, a inclusão do aumento da produção das energias renováveis e o uso da expressão “substituição dos combustíveis fósseis” foram destaques do novo documento.   

“A gente falaria da substituição dos combustíveis fósseis pelas renováveis em vez de falar de eliminação. É uma novidade interessante e vem alinhada com a linguagem que foi adotada no acordo entre a China e os Estados Unidos recentemente. Então, esse termo tem chances de avançar e pode acalmar alguns países que não conseguem ir adiante com uma linguagem de eliminação gradual”, destacou.  

Unterstell destacou ainda como negativa, a mudança no texto sobre os subsídios aos combustíveis fósseis. O primeiro rascunho falava da eliminação de todo subsídio. Agora, o texto pede a eliminação dos subsídios que não abordam a pobreza energética e a transição justa.

“Isso pode deixar uma janela muito grande aberta para que os subsídios continuem. Vale lembrar que, de 2007 para cá, foram U$S 7 trilhões em subsídios dados à indústria de petróleo e gás no mundo. Então, se a gente não conseguir eliminar essa fonte de recursos não adianta falar que vai eliminar ou substituir os combustíveis fósseis, mas eles continuaram se perpetuando”, concluiu.  

IPCC  

O representante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Jim Skea, reafirmou nesta sexta-feira (8), em Dubai, a posição do órgão sobre os combustíveis fósseis. O IPCC é a entidade da ONU que elabora os relatórios científicos sobre as mudanças climáticas e que servem de base para os debates das COPs.  

Segundo Jim, “olhando para os cenários em que o aquecimento global está limitado à 1,5ºC, sem nenhum ou pouco excesso além disso até 2050, a utilização de combustíveis fósseis deve ser grandemente reduzida e a utilização do carvão deve ser completamente eliminada”. O cientista acrescentou que o uso do petróleo deve ser reduzido em 60% e o gás natural em 45% até 2050.  

Crise Climática    

Os gases do efeito estufa lançados na atmosfera vêm aumentando a temperatura do planeta desde a Revolução Industrial (séculos 18 e 19), principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis, o que impulsiona a atual crise climática, marcada por eventos extremos, como o calor excessivo, as secas prolongadas e as chuvas intensas.    

No Acordo de Paris, em 2015, 195 países se comprometeram a combater o aquecimento global “em bem menos de 2º C acima dos níveis pré-industriais”, buscando limitá-lo a 1,5ºC acima dos níveis antes da revolução industrial.    

Fonte: EBC Internacional

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